Saturday, February 22, 2014

Left turn

Contra todas as expectativas, há um dia em que a manhã te expulsa da cama sem que tenhas vontade de lá te abrigares novamente. A luz do dia arromba-te a casa e não a sentes como uma agressão. Reconheces novamente o cheiro que fica na terra depois da chuva e as variações do clima não condicionam as tuas decisões. 
A roupa que escolhes passa a ter cores e padrões e, devagarinho, começa a fazer sentido combinar umas peças com as outras.
A rádio assobia-te uma melodia triste e as lágrimas não te afligem aos olhos. Voltas a sentir fome e a redescobrir os sabores dos vários alimentos. Dormir passa a ser um favor que fazes ao corpo e não um milagre que suplicas à cabeça.
Sem saberes como, o espelho deixa de ser um reflexo do que tu és, mas apenas do que consegues ver. 
As tecnologias e as virtualidades vão cedendo espaço às pessoas e, logo logo, convences-te de que a tua existência não se extingue num estado offline. 
Nesse dia, decides percorrer o caminho mais longo e, em vez de chegares a casa, é a casa que chega até ti. E a partir daí, esse aconchego viverá dentro de ti, para onde quer que vás. Descobres que a liberdade se consegue em coisas tão simples como descontinuar um padrão. E cresces, com a desistência de interpretares as ironias, tanto como com o respeito pela multiplicidade de fenómenos que nos singularizam.
Esse é o dia em que finalmente tens coragem de fechar as portas atrás de ti e abrir as que estão à tua frente, em vez do inverso.




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