Friday, November 22, 2013

Tenho de separar deste quadro aquilo a que não lhe pertence. Não misturar as cores. Não fazer doer a outros o que me dói a mim. E a mim dói. Talvez porque me tenha convencido que não existem finais felizes. Testo-os sempre até ao limite da paciência. Mas isto não tem de ter um fim do outro lado da lomba. Este amor tem princípios. Cada um, mais forte que o anterior. Quero que saibas disso. Quero que sejamos um do outro. Já o somos. Não te deixo perderes-te de mim. Quero-te assim. Difícil. Torrão. Duro. Orgulhoso e teimoso. Doce, carinhoso. Um príncipe. Estás em mim, de formas que desconheces. No meu sorriso, o teu tão tímido e misterioso, nos movimentos, os teus nos meus dedos, na voz, a tua, profunda nos meus ouvidos. Quero-te assim. Como vieres. Quando vieres. Hoje ou amanhã. Um dia. Ou talvez nunca.


Sunday, November 3, 2013

Entre o sofá e a janela

Sento-me. Acomodo as almofadas vermelhas às minhas costas. Puxo a manta para o meu colo. Levanto-me. Apetece-me uma bebida quente. Algo doce e suave, como camomila. O fervedor eléctrico é rápido de mais. Volto a sentar-me e a repetir todos os movimentos que me retornem à sensação anterior de conforto. Queimo os dedos e a língua. Não há forma de retomar o conforto. Levanto-me novamente. Desta vez, um cigarro. E a seguir a esse, outro. A melhor parte do cigarro acaba depressa. Odeio o cheiro que fica na sala a seguir. E sento-me. A televisão, os filmes, as séries são inúteis. Não consigo concentrar-me em nada. Não estou confortável. Volto a levantar-me. Vou arrumar qualquer coisa que não estava assim tão mal. Espreito incessantemente a janela e o coração dispara a cada duas rodas que passam. Na minha cabeça corro, vezes sem conta, um filme romântico em que me apareces, de cavalo, dizendo-me que afinal o amor é maior do que qualquer forma de orgulho. Nada acontece. A vida real não acontece como nos filmes, e uso esta frase para me castigar, cada vez que te imagino à minha frente.
Depois, inevitavelmente, a dor no coração. O nó no estomâgo, o vazio no peito. Nesse momento sei, vai custar a passar. 
Sento-me mais uma vez. Desligo o telemóvel só pelo prazer de o ligar, só pelo prazer de desfazer a ansiedade da dúvida sobre se me procuraste ou não. Mas tu não me procuras. E não o farás mais. Esta certeza cai em mim, como um aguaceiro de Outono.
E, por breves segundos, estamos novamente na viagem de regresso do Caramulo, parando nas estações de serviço para comer Ben & Jerrys. Viciamo-nos nesse doce, como no doce de nós os dois. Mas os vícios acabam mal e obrigam a um desmame longo e doloroso.
Questiono-me sobre se pensarás em mim. Mas rapidamente tenho a minha resposta, tal como tenho o espaço vazio da tua mota à minha porta. 
Vai custar a passar. Talvez só passe numa outra vida, quando formos ambos gatos.