Tuesday, January 21, 2014

Amores e cigarros

Gira-se a esfera, faz-se faísca, gera-se o fogo e acende-se o cigarro. Tal como no amor, há poucos prazeres igualáveis ao de acender um cigarro. O som do papel a arder, a cor avermelhada do que se inflama lentamente, a cor platina da nuvem que se acabou de formar, a liberdade ao horizonte, a autonomia dos gestos, um pequeno milagre a acontecer só para nós. Este início, ninguém nos tira. 

Quando nos sabe bem, damos longos e demorados tragos, absorvendo tudo o que nos é possível de cada vez que o fazemos, angustiados com a possibilidade do fim.

Quando nos sabe mal, muitas vezes apagamo-lo a meio, sem pachorra para aguentar algo que não cumpre o seu propósito. Ou então, dado o investimento relativo que já foi feito nele, faz-se o frete e fuma-se até ao fim, esperando não dar bandeira sobre a agrura do processo.  

Goste-se mais, goste-se menos, todos, mas todos os cigarros, sem excepção, chegam inevitavelmente ao fim. 
Assim, também é o amor.

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